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Previdência aberta rende pouco

Jusprev
2 de fevereiro de 2011

O ano de 2010 foi de contrastes para os fundos de previdência aberta (PGBL e VGBL). Do lado dos bancos e seguradoras, sobraram motivos para comemoração, já que o patrimônio líquido (PL) do setor atingiu R$ 181,9 bilhões, crescimento de 24,89% em relação a 2009. Já os investidores não têm lá muito o que comemorar. A rentabilidade dos fundos de renda fixa e multimercados sem renda variável foi magrinha, em média 8,47% e 8,21%, respectivamente, perdendo do CDI do período, de 9,75%.

Com o ritmo de crescimento anual do PL ao redor de 25%, o setor dobra de tamanho a cada quatro anos. Mas os ganhos do investidor, sobretudo pelo efeito da taxa de administração, têm sido muito baixos, ressalta Marcelo Nazareth, sócio-diretor da consultoria NetQuant, que compilou os dados de 567 fundos de previdência aberta em 2010. “Isso em algum momento terá que ser ajustado, senão as pessoas vão chegar ao fim de 5, 10 anos, insatisfeitas”, afirma.

O quadro piora quando se considera o ganho real. Descontada a inflação de 2010 medida pelo IPCA (5,91%) – índice de preços que melhor reflete o custo de vida da maioria dos investidores – a rentabilidade real das carteiras fica ao redor de 2,5%. Levando em conta o IGP-M (alta de 11,32% no ano passado), houve perda real, ou seja, o poder de compra do investidor diminuiu.
Um ponto que merece atenção do poupador é a qualidade da gestão das carteiras. Os fundos de previdência são, por natureza, mais conservadores, o que se traduz na preferência por uma gestão passiva. Ou seja, o gestor não altera muito a carteira de investimentos do plano.

No caso dos fundos de renda fixa, isso significa seguir um índice que espelhe a variação de uma cesta de papéis públicos, sobretudo os atrelados a índices de preços. Com isso, o gestor não se aproveita das alterações nos preços dos títulos ao longo do tempo. Essa estratégia seria justificada em caso de taxas de administração baixas, algo longe da realidade do mercado de previdência privada.

E com um ambiente de juros não tão altos, como se viu no ano passado, as taxas de administração acabam pesando demais no bolso do investidor. “A estratégia dos fundos de renda fixa ainda é super conservadora”, diz Nazareth. “Os gestores vão precisar correr mais riscos para ter um retorno que justifique essas taxas”, ressalta, lembrando que os investidores em previdência ainda arcam com a taxa de carregamento, um percentual descontado a cada aporte no fundo.

Nazareth lembra que os ganhos líquidos dos fundos de renda fixa também foram reduzidos nos anos anteriores. Em 2009, essas carteiras renderam 8,69%, para um CDI de 9,9%. A discrepância foi maior em 2008 (9,91% dos fundos ante 12,4% do CDI) e 2007 (9,59% versus 11,8%). Pode ser aceitável que uma aplicação que mire no longo prazo fique abaixo do CDI, referência de rentabilidade de curto prazo, durante certo período, mas é difícil explicar esse desempenho magro durante quatro anos consecutivos.

Em 2010, os fundos de renda fixa também perderam feio do Índice de Mercado Anbima (IMA), que fechou o ano passado com alta de 12,98%. O índice reflete a evolução de uma carteira teórica de títulos públicos (pré e pós-fixados e atrelados a índices de preços), que são justamente os principais ativos dos fundos de previdência. Essa discrepância mostra, no mínimo, que as taxas de administração cobradas estão corroendo os ganhos das carteiras, alerta Nazareth.

Apesar do desempenho fraco, os fundos de renda fixa e multimercados sem ações são os carros-chefes da previdência privada aberta, representando cerca de 75% do patrimônio do setor. Mesmo com rentabilidade líquida questionável, essas carteiras continuam a ter a preferência dos investidores. Da captação líquida de R$ 24,15 bilhões dos fundos no ano passado – alta de 11% ante 2009 -, R$ 17,38 bilhões, ou 72%, foram para os sem renda variável.  (Valor)

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