Dia 24 de janeiro é comemorado o Dia do Aposentado e a lembrança da data pode suscitar sentimentos distintos. Por um lado, o avanço da idade e as limitações que ele traz são agravados com aumento de despesas, redução de receita e acúmulo de funções na família. Por outro, quem consegue se organizar financeiramente – em especial se começou a fazer isso ainda na ativa – pode aliviar o peso do passar do tempo com atividades antes inviáveis.
O Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), prova o que os idosos sentem no bolso: a vida é mais cara para eles. De acordo com os dados do fechamento de 2015, a inflação dos últimos 12 meses para quem tem mais de 60 anos foi de 11,13%, enquanto a taxa geral foi de 10,53%. O economista da FGV André Braz explica que há aumento de consumo de vários produtos e serviços pela população quando se torna idosa. Enquanto jovens e adultos passam o dia fora de casa, sem gastar energia e água das próprias residências, por exemplo, os aposentados passam mais tempo em casa, consumindo esses recursos. “Quando os preços desses serviços sobem, pressionam mais o custo de vida dos mais velhos. O mesmo acontece com serviços de saúde. À medida que envelhecemos, passamos a destinar um percentual maior de nossos rendimentos com medicamentos e médicos”, analisa.
O auditor aposentado Antônio da Mota Silveira, 79 anos, sabia que isso ia acontecer. Mas, para ele, a adaptação não foi traumática porque, na verdade, começou muito cedo. “Não gasto mais do que devo e faço uma reserva para qualquer eventualidade. Na família, a gente soma a renda e vê o que pode ser gasto. Desde a juventude faço isso”, conta Seu Mota, como é mais conhecido. “Eu sei que pra quem ganha um salário mínimo é muito difícil, mas para quem é de classe média é perfeitamente possível.” Pouco antes de se aposentar, ele não pensava só na programação financeira. “Eu tive que pensar no que eu ia fazer. O maior mal de uma pessoa que se aposenta é ficar em casa sem fazer nada”, comenta.
É tanto que ele não para. Entre as atividades, estão serviços voluntários em uma instituição beneficente, esculturas em argila e bonsais. “Quando eu estava na ativa aproveitava a vida, mas não tanto devido a todas as preocupações que temos no dia a dia. Hoje estou programado para usufruir de modo muito melhor do que quando trabalhava”, avalia. Seu Mota tem uma receita ainda mais didática: “Você tem casa na praia, casa no interior, sítio… você usufrui? Se não, venda e invista na sua vida”.
Educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli destaca que estratégias como a de Seu Mota estão entre as melhores para manter as contas em dia na aposentadoria. “A primeira coisa a fazer é reavaliar os hábitos, especialmente se a pessoa não se programou para se encaixar nessa nova realidade”, acrescenta. Ele destaca que os idosos atualmente têm tanta ou mais facilidade de acesso ao crédito que os jovens e são igualmente alvo de apelos consumistas. O que aumenta a importância de cortar maus costumes financeiros e adquirir novos, mais saudáveis, como saber exatamente o que se gasta. “Não precisa ser um controle sofisticado, pode ser um caderno de anotações”, ensina.
Outro cuidado trata de uma questão delicada: “Não assuma gastos que não são seus. Sei que é uma questão difícil, mas que temos a missão de abordar”, explica Vignoli. “Muitos aposentados acabam se mantendo como arrimos de família quando deveriam estar aproveitando a aposentadoria”, complementa.