Artigo – Francisco Miguel de Moura
Na Europa e nos países desenvolvidos, a população de velhos supera a das outras idades. Nem por isto eles estão assustados como mantê-la e dentro de padrões razoáveis. No Brasil, caminhamos para a mesma situação.
Amanhã, também serei velho e precisarei de alguém que cuide de mim» – essa deveria ser a reflexão dos filhos, genros e noras, num mundo em que cada vez o homem vive mais. Viver é uma glória. Viver até ficar velhinho, antes de ser o desejo de quase todos os homens, é um prêmio.
A família, célula MATER da sociedade, não deve ser lembrada apenas nas horas de alegria. Do nascimento à morte, os membros da família devem ter em mente que têm compromissos uns com os outros. Não só compromissos, mas obrigações legais. Todos somos carentes, e essa carência fortalece a família. Mas os velhos e as crianças, pela sua fragilidade, são muito mais carentes, necessitam de carinho especial. Os familiares, em primeiro lugar, quando no gozo maior de sua força e maturidade devem dar todo o apoio aos mais fracos.
Quando se fala sobre o trato que recebem (ou não) os idosos no âmbito familiar, lembremos também da esfera pública e do que lá acontece. No Brasil transitório do colonialismo e para o imperialismo, nosso neo-socialismo de agora presencia o abandono, a rejeição, o apartheid e às vezes a perseguição ao idoso, aposentado ou não.
Outra coisa: dizem por aí que a Previdência Oficial está falida. Muitos políticos querem privatizá-la, o que é uma ignomínia. Se a Previdência está falida, a culpa não é dos aposentados, especialmente das aposentadorias pequenas e médias, conseguidas dentro dos princípios legais, honestamente. Ela ampara milhares de nossos velhinhos, que deram a vida pela nação, trabalhando, suando. Ela lhes dá a dignidade de viver até o fim. Já tivemos até um Presidente do Brasil que, num momento de ironia, chamou os aposentados de vagabundos. Ora, ora, meu Deus!
As causas da queixa de quebra do INSS são outras. São a má administração, são as concessões de benefícios políticos ao arrepio da lei. São furtos e roubos até fabulosos. São a não cobrança das empresas que retêm as contribuições dos seus funcionários e não entregam aos cofres do INSS. São todos os desvios que acontecem na burocracia e nos maus hábitos políticos.
Com tantos milhões de aposentados massacrados pelo baixo salário, sacrificando-se na espera de uma consulta, morando de favor, assaltados por pivetes nas filas dos bancos ou morrendo nessas mesmas filas por falta de assistência médica, como se fosse crime ser idoso, isto é país nada sério. Um país que deixa seus milhares de criança sem escola, soltos nas ruas, alistando-se na droga, no crime ou simplesmente na vadiagem; um país que tolera milhares e milhares de desempregados, fechamentos e mais fechamentos de fábricas e empresas, com a desculpa de que é mais barato importar produtos de outros países, é um país que está fadado a ficar cada vez mais pobre, mais dependente do exterior, do capital internacional que reduz tudo a moeda (na mão deles) e miséria para o resto do povo.
Uma crisezinha da Ásia, na Oceania, ou mesmo na América do Norte não devia abalar o mundo. Mas agora basta o governo de um pequeno país nos confins do mundo deixar a bolsa cair, daí os juros se elevam, o orçamento se fecha (para a Educação, para a Saúde, para a Segurança). Só não se fecha para as mamatas, para as viagens deles, os afortunados políticos. È a corrupção generalizada, exemplos que chegam até o porteiro do edifício habitacional mais distante. Esse filme foi visto até agora com outro nome: colonização, imperialismo, corrupção. Ou “globalização” pelo dinheiro (bancos) através da internet. Tudo novo, modernidade, nome bonito para uma coisa que está ficando tão feia. E enquanto o mundo caminha para a agudização do individualismo, a política econômica vem com essa história de globalização, o mundo é um só! Difícil entender.
Completamos mais de 500 anos de existência na historia ocidental, isto é, do descobrimento pelos portugueses. Somos velhos. Temos uma população cada vez mais madura. Teremos muito mais velhos num futuro próximo. E quem vai cuidar desses velhos? São vocês. E de vocês, quando precisarem de cuidados? São seus filhos. Assim foi, assim será. Sem dispensar o cuidado do Estado, que deve lembrar do indivíduo como um todo, não apenas como contribuinte. Nossa população e nosso governo precisam tomar consciência disto urgentemente. O Ministro Reynold Stephanes disse há pouco tempo que, depois da Reforma da Previdência, haverá a garantia de que em torno de um milhão de idosos e deficientes terão uma renda mínima – não disse de quanto. Mas um milhão é pouco. Pela marcha da carruagem teremos muito mais pessoas necessitando desse mínimo, dentro de pouco tempo. O Ministro Garibaldo Alves é outro que levou a Previdência Social a sério. Mas o que se vê e se viu é a falta de apoio do Poder Executivo, enquanto apoia a intervenção de outros órgãos governamentais de força financeira nas leis e administração do INSS.
O problema do sistema previdenciário adotado é que poucos, e são os que ganham menos, e são os que pagam, pagam mesmo, são os mais postergados. Entretanto, muitos e muitos, e são os que ganham mais, e não pagam. E, no final, todos recebem aposentadorias. A má administração da Previdência faz desaparecer suas rendas e receitas nas malhas da burocracia e do roubo. Assim não dá.
Pela lei de Deus e pelas leis sociais do homem civilizado, os que não podem pagar a previdência, claro, não pagariam. Mas, depois dos 65 anos teriam a sua aposentadoria mínima de um salário. Outra coisa, os aposentados no Brasil têm direito a dominarem o Ministério da Previdência. Esse ministério deveria ser administrado pelos aposentados, aqueles que pagaram, e não por aqueles que, no fim de contas, não pagam, ou pagam infinitamente pouco, se considerado o valor do que ganham.
Se a orientação fosse esta de os aposentados mandarem no Ministério da Previdência Social, as famílias teriam outro padrão de comportamento para com seus velhos. O velho seria considerado uma reserva moral e não um trambolho.
Fonte: www.portalodia.com