Artigo: Um olhar confiante

fev 17, 2009 | Notícias

Reproduzimos, em seguida, artigo do consultor Luiz Guilherme Piva, da LCA Consultores: “ Um pouco mais otimista do que a média, posso dizer. A média não é lá essas coisas, mas algum otimismo nesta hora merece o registro. E eu tenho falado sobre economia brasileira com expectativas melhores do que as que tenho ouvido e lido.

Não confiaria demais na minha intuição se não a baseasse na leitura que faço dos excelentes trabalhos da equipe de macroeconomia da LCA – que, no entanto, não é responsável pelo que pode ser entendido como ousadia da minha perspectiva.

O Brasil tem passado relativamente bem pela crise. Na primeira grande pedra no lago da economia internacional, em agosto de 2007, os efeitos por aqui não foram além dos preços de ativos – que logo se recuperaram.

De agosto a dezembro de 2008, com intensidade maior em setembro e outubro, a avalanche despejou enormes pedras na lagoa. Bombas e ondas enormes engoliram mercados financeiros, bancos, fábricas, lojas e empregos em vários lugares. Ondas centrífugas fortes chegaram nestas plagas, outras ainda estão batendo e há algumas a caminho – até dizem que as mais perigosas são as secundárias, sorrateiras, vorazes.Mas vejamos.

O mergulho dos preços das ações e do valor do real frente ao dólar, o estancamento de segmentos da produção e das vendas, a corrosão de alguns balanços e a continência do crédito no último trimestre de 2008 foram duros. Duas coisas, porém, chamam a atenção.

Primeira: nem de longe se parecem com o que se deu nas principais economias, que, em frações de semanas, derreteram – um desaquecimento econômico global transformando em água blocos antes sólidos, como se imagina ocorrerá com as geleiras, em frações de milênios, no aquecimento climático global.

A segunda: os impactos no mercado de trabalho, embora grandes, ficaram proporcionalmente menores do que a redução na produção. Aliás, este segundo aspecto tem relação com a popularidade de Lula e a recuperação da confiança quanto a emprego e salários nos próximos meses, captadas na pesquisa CNT/-Sensus de janeiro.

Já se notam recuperações parciais e relativas em segmentos do comércio e da indústria. As projeções de emprego e renda sustentam – com desigualdades entre os setores, incluindo reduções grandes em alguns – retomada a partir do segundo e, principalmente, do terceiro trimestre para níveis (em fluxo e em estoque) próximos aos de 2004.

Os ganhos reais do salário mínimo, a baixa inflação e as políticas assistenciais seguram a demanda de vários bens e serviços. O sistema bancário está sólido. Os projetos de infraestrutura têm que ser continuados, e estão sendo. O governo ataca com medidas tributárias, monetárias e compensatórias de bom efeito.

O BNDES supre com bravura espaços que o crédito bancário abandonou. Fundos de “private equity” e fundos de pensão seguem fazendo negócios. As reservas brasileiras são altas (US$ 200 bilhões). Somos credores líquidos externos na dívida pública.

Além de tudo, pensemos: haverá ainda pedras grandes a cair no lago da economia internacional? Algum grande banco está por quebrar? Algum governo deixará que isso ocorra? Ainda há incertezas quanto à disposição política dos principais países de não deixar a água subir além do pescoço?

A China deixará de demandar “commodities” para alimentar a população? Ou deixará a economia parar e gerar desagregação social?

Não terá reservas monetárias e poder político suficiente para fugir para adiante? São perguntas que aceitam respostas prenhes de senões dialéticos. Mas, por isso mesmo, aceitam também aquelas que duvidem das catástrofes inevitáveis.

De todo modo, meu relativo otimismo tem que ponderar aspectos graves, que o podem tornar inconsistente como um banco islandês. Destaco os seguintes. A retração das principais economias afeta nossos volumes e preços de exportação.

As práticas protecionistas encolhem mercados que vimos conquistando recentemente. A continuidade da insolvência lá fora estimula atores a retirar recursos do Brasil. Tudo culmina na crise de confiança e de crédito.

Para piorar, nossa política monetária segue deificando taxas de juros reais que já foram lançadas ao inferno em todas as economias que mereçam ser assim chamadas. Talvez haja um motivo para essa sagração injustificada feita pelo Banco Central (BC).

Alguém deve ganhar alguma coisa com isso, embora custe tanto a toda a economia. Mas não tenho certeza. Pode ser só uma iconoclastia besta da minha parte”.(Gazeta Mercantil)

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