Quando menino, uma das coisas que eu mais gostava de fazer era ler gibis. Adorava ler as histórias do Tio Patinhas, aquele sovina que só pensava em guardar dinheiro em sua caixa forte e vivia tentando proteger a sua moedinha número um. O sujeito era tão econômico, que ainda guardava com ele a primeira moeda que ganhou na vida.
O pensamento nunca me ocorreu na infância, mas agora, pensando no assunto, eu fico me perguntado: “vale a pena guardar tanto assim o seu dinheiro e não aproveitar as outras coisas da vida?”.
Há também histórias bem diferentes, de pessoas que não sabendo poupar e sendo um perdulárias confessas, gastam tanto que, depois de mortas, seus bens precisam ir a leilão para pagar as dívidas. E eu também fico me perguntando: “mas será que é preciso gastar até o último centavo e se endividar na busca da felicidade, ao ponto de, na velhice, não ter nenhuma segurança nem garantia?”.
Como já dizia o filósofo Confúcio, “a virtude está no meio”. No caso da vida financeira, isso quer dizer que você deve pensar em poupar, mas sem cometer o exagero de deixar de viver só para guardar mais dinheiro.
Entenda o seu momento de vida
O primeiro passo para planejar bem suas economias e suas despesas é entender que a vida não é um processo linear que se repete continuamente. Se hoje você tem uma boa remuneração, que permite a você viver muito bem, tenha em mente que isto nem sempre permanecerá assim.
Como padrão, na medida em que vamos envelhecendo, nossa remuneração tende a diminuir e até mesmo nossa aceitação no mercado profissional vai se tornando menor. Muita gente tem dificuldade em poupar por não compreender bem esta dinâmica ou por, simplesmente, não querer pensar nela, acreditando que a velhice demora muito para chegar.
O segredo é bem simples: naqueles momentos da vida em que sua remuneração vai bem, é a hora certa para poupar um pouco mais.
Não comprometa todo o dinheiro nas compras
Outra armadilha perigosa é comprometer todo o orçamento na compra de um bem durável. O que estou querendo dizer é que na hora de escolher um imóvel ou um veículo para comprar, você não deve comprometer totalmente a sua remuneração para pagar as parcelas. O melhor é comprar um imóvel um pouco menor ou um veículo um pouco mais simples, e deixar uma folga no orçamento para que você continue poupando. Para entender isso é muito fácil: o veículo que você comprou hoje perderá uma boa parte de seu valor com o tempo, e você não terá um patrimônio formado lá para frente, mas sim um bem de valor depreciado.
A mesma coisa – ou até pior – acontece com um imóvel. Você compra sua casa hoje, paga durante muitos anos, mas quando se aposenta o imóvel precisará de alguma reforma e de manutenções. Isso normalmente acontece naquele momento da vida em que sua remuneração já começou a diminuir. Se você não tiver formado uma poupança, terá dificuldade de enfrentar esta situação.
É possível viver e poupar
Em minha opinião, o que atrapalha muita gente é a falsa ideia de poupar e desfrutar são coisas que não podem acontecer ao mesmo tempo. É a história do sujeito que passa a vida trabalhando como um touro, guardando todo o seu dinheiro para poder aproveitar a vida e viajar na velhice. Só que, ironia das ironias, na velhice ele fica doente e acaba nem viajando e nem aproveitando.
Minha dica: desfaça este mito. Você não precisa viver um período em que você só poupe e outro em que você só gaste. O ideal é conciliar essas duas coisas. Tente se organizar da seguinte maneira: do total de sua remuneração, separe uma parte – 10% por exemplo – para uma poupança perene. Esta parte você coloca em uma aplicação que mais lhe agradar, que não seja um investimento de risco, e simplesmente esqueça essas economias . Esse dinheiro é para sua velhice.
As finanças estão a seu favor
Do que sobrou da sua remuneração você constrói sua vida, pagando suas despesas, comprando seus bens duráveis e cuidando de seu lazer. Até posso ver a sua cara de quem diz: “mas o que este louco está falando? Eu mal consigo honrar meus compromissos com 100% do que eu ganho e ele ainda quer que eu guarde 10%?”.
Pois então, vou lhe pedir para se lembrar da última vez que a sua remuneração aumentou. Pode ter sido seu último aumento de salário, ou pode ter sido aquele cliente novo que você passou a atender, não importa. Eu tenho certeza de que, naquele momento em que sua remuneração cresceu, você achou que seus problemas estavam resolvidos e que daquele instante em diante o dinheiro iria sobrar.
Dá para apostar que você só manteve aquela sensação no primeiro mês porque, no mês seguinte, rapidamente, você voltou à condição de que o tanto que entrava na sua conta também saía, não é verdade? Isso acontece porque nós temos uma capacidade muito grande de organizar nosso orçamento e qualquer nova verba rapidamente ganha um destino.
O que estou propondo é que você faça a mesma coisa, só que ao contrário. Quando começar a poupar, a primeira sensação será de aperto mas, em pouco tempo, você será capaz de organizar seu orçamento e as coisas vão entrando nos eixos.
Quando se trata de organização financeira, você precisa ter sempre em mente que o tempo está a seu favor, então comece já a se organizar, poupe e aproveite seu dinheiro ao mesmo tempo.
fonte: www.personare.com.br