Quando a Previc editou a IN 11, no mês passado, dispensando as entidades do envio, por meio impresso, do resumo do relatório anual de informações aos participantes ativos e assistidos, desde que disponibilizem a versão completa em meio eletrônico, a medida foi vista como positiva. No entanto, a Instrução não ficou apenas nisso, uma vez que modificou o procedimento de análise dos programas de educação financeira e previdenciária, que com a nova norma deixaram de ser previamente analisados pela autarquia, provocando em muitas associadas uma dúvida sobre qual o real valor destes a partir de agora. Ontem, falando na abertura do 2º Encontro de Educação dos Fundos de Pensão, promovido pela Abrapp em São Paulo e uma iniciativa da Comissão Técnica Nacional de Educação, o titular da PREVIC, Carlos de Paula, esclareceu tudo: “a existência de um programa de educação previdenciária vai continuar sendo vista pelo órgão supervisor como algo que a entidade faz de positivo”. Quer dizer, o fato de existir será levado em conta pela fiscalização, explicou de Paula, acrescentando que orientação nesse sentido está sendo passada aos escritórios regionais da autarquia. Ainda na instalação dos trabalhos, dois diretores da ABRAPP, Luis Ricardo Marcondes Martins e Nairam de Barros, destacaram a importância desse esforço educacional para o fomento de nosso sistema, tendo de Paula feito uma ampla apresentação acerca das iniciativas desenvolvidas nesse sentido unindo o governo e o segmento privado.
No mesmo sentido, Luis Ricardo salientou que além da educação previdenciária e financeira podem contribuir para esse fomento o mecanismo da inscrição automática, a desoneração, alterações na tributação e autorização para o resgate parcial das reservas, no caso dos planos instituídos.
“O sistema tem como crescer e espaço para isso”, disse Luís Ricardo, dando como exemplo a expansão da vertente associativa da Previdência Complementar.
O desafio é educar para que o trabalhador faça a sua adesão a um plano e ao longo das décadas seguintes se mantenha nele, por valorizá-lo como algo que lhe garantirá uma maior qualidade de vida quando a aposentadoria chegar. Mas, claro, isso é mais fácil de dizer do que fazer e, no painel sobre o tema “O Comportamento do Brasileiro com Relação às Finanças”, a expositora Adriana Olivares Rodopoulos, economista e sócia da Oficina de Escolhas, apontou o que a sua experiência mostrou ser o melhor caminho: “é preciso criar um ambiente de escolhas e espaços de aprendizagem que permitam ir além da pura informação e levem em conta o componente emocional na tomada de decisões”.
“Isso porque”, segundo ela, “a informação não é suficiente para modificar o comportamento das pessoas”. Enfim, não é porque as pessoas estão informadas que tomarão o caminho certo.
Pensar de um jeito e fazer de outro – Ao iniciar a sua exposição, Adriana forneceu alguns números mostrando que muita gente pensa uma coisa e faz outra em desacordo ao menos aparente com o que parece ser a sua convicção. Pois bem, pesquisa recente revela que 69% dos brasileiros não acumulam poupança para a aposentadoria e 38% sequem planejam fazê-lo, sendo que 60% encontram-se endividados e 20% já entraram no estágio da inadimplência.
Ao contrário, porém, do que esses números fazem pensar acerca da despreocupação dos brasileiros em relação a tudo isso, um outro dado da pesquisa indica que 90% dos brasileiros estão sim preocupados e não gostam nada dessa não preparação para a aposentadoria. É a partir dessa contradição entre o que se pensa e o que se faz que Adriana construiu a sua apresentação no evento, notando sempre que na raiz dessa diferença entre o pensar e o agir reside não propriamente a carência de informações, mas sim problemas encontrados no processo que envolve o pensamento humano ou, mais precisamente, no encontro mal resolvido entre dois sistemas cerebrais, um mais repetitivo e básico, o outro mais lógico e dedutivo. O primeiro favorece as respostas mais instintivas e centradas no curto prazo, o segundo capaz de produzir reflexões e olhar o longo prazo.
O pior é que o cérebro tem maior dificuldade em lidar exatamente com as situações que envolvem, por exemplo, a previdência complementar. “Tomar uma decisão fica sempre mais difícil quando o tema não é familiar, suas consequências não são imediatas e mapear as opções é algo mais complicado”, resume Adriana, mostrando com isso o tamanho do nosso desafio.
Conversar e compartilhar – Na mesma linha de que não basta a informação, a expositora seguinte, a consultora de comunicação Eliane Miraglia observou que “criar conteúdo não é suficiente, é preciso conversação e compartilhamento, tornando as pessoas protagonistas”. Em resumo, para educar a entidade e seus profissionais precisam aprender a ouvir, disse Eliane no painel voltado para o tema “Como Desenvolver Ações Eficazes com Criatividade e Inovação”.
Nessa ideia de duas mãos, a entidade fala mas também ouve, para Eliane está muito claro que o fruto da criatividade precisa fazer sentido para todos os envolvidos, ser justificado e ser negociado. O painel incluiu ainda um estudo de caso em que a OABPrev-RJ mostrou os resultados positivos alcançados em seu programa de educação, apoiado em parcerias.
fonte: sistemas.abrapp.org.br