Desde a década de 90, os fundos de pensão têm sido agentes ativos na busca do aprimoramento da governança corporativa de seus investimentos. Esse movimento, a partir da década seguinte, foi intensificado e ampliado buscando incorporar também os impactos sociais e ambientais dos negócios, questões fundamentais para a sustentabilidade dos ativos investidos. Estes três pilares – o ambiental, o social e a governança (ESG, environmental, social and governance) – são a base da prática do investimento responsável. Um exemplo marcante desse ativismo e da crescente importância do tema para os fundos de pensão e outros investidores institucionais ao redor do mundo é a criação da iniciativa “Princípios para o Investimento Responsável” (ou PRI – Principles for Responsible Investment).
No inicio de 2005, a Organização das Nações Unidas (ONU) convidou representantes de 20 investidores institucionais (na maioria fundos de pensão) oriundos de 12 países, incluindo o Brasil, para, apoiados por diversos especialistas, se unirem em um processo de desenvolvimento de princípios de responsabilidade social, ambiental e de governança nos investimentos. Como consequência, foi criada a iniciativa denominada PRI. Trata-se de uma rede internacional de instituições ligadas à cadeia de investimentos que, por meio de adesão voluntária, se comprometem com a incorporação das questões sociais, ambientais e de governança corporativa às práticas de análise, decisão e gestão de seus investimentos.
Desde o seu lançamento oficial em Nova Iorque, em 2006, o PRI vem apresentando rápida expansão em todo mundo. Atualmente conta com 876 adesões, cujas instituições em conjunto administram mais de US$ 25 trilhões. No Brasil existem atualmente 46 signatários, dentre eles 15 fundos de pensão que são responsáveis por cerca de 60% dos recursos administrados em seu segmento no país. O grupo de signatários locais do PRI tem atuado em diversas frentes com o objetivo de ampliar esse movimento. Além do esforço para divulgar a iniciativa em diferentes fóruns de investidores e gestores, uma das principais metas do grupo é a construção conjunta de métricas que incorporem de forma objetiva tais questões na avaliação dos ativos.
Em paralelo, buscando ampliar a transparência das empresas brasileiras com relação às suas práticas voltadas para o tema, o grupo de signatários está desenvolvendo diversas ações de engajamento visando estimular a adoção de relatórios de sustentabilidade, focando em um primeiro momento nas empresas listadas no IBrX-100. Recentemente, um grupo específico de fundos de pensão foi criado dentro da rede de relacionamento local do PRI para discutir a ampliação da inserção do tema em suas políticas de investimentos. Por meio do compartilhamento de informações e da busca de referências internacionais do PRI, tem-se o objetivo de identificar as melhores práticas de investimentos responsáveis nas diferentes classes de ativos atualmente investidos por esses fundos.
Diversos fundos de pensão já adotam práticas de investimento responsável que vão muito além dos investimentos nos fundos temáticos de sustentabilidade. Utilizam metodologias de triagem positiva e negativa na seleção de ativos tendo com base critérios de ESG, incluem esses critérios também em suas matrizes setoriais, nos processos de seleção de gestores para as carteiras terceirizadas, no engajamento direto nas empresas investidas, nos investimentos imobiliários (“green building”), entre outras medidas.
Está claro, entretanto, que dentre os fundos de pensão existem instituições em diferentes estágios no processo de incorporação das práticas de investimentos responsáveis, mas com a inclusão de referências a essas práticas na Resolução BACEN/CMN 3792, que regula os investimentos dos fundos de pensão no Brasil, o tema entrou na agenda do setor. Esperamos um dia não mais usarmos o termo investimento responsável e que toda e qualquer prática de investimento, adotada por qualquer agente do mercado, considere naturalmente, como característica intrínseca ao processo, a incorporação das questões ambientais, sociais e de governança.
Fonte: Valor Online