Os perigos da redução de juros

jun 21, 2012 | Notícias

Com a intenção de acelerar a atividade interna, essa política macroeconômica pode resultar em inflação, endividamento e inadimplência.

A redução dos juros é uma política do governo que tem por objetivo estimular o consumo e a produção por meio da facilitação do crédito, objetivando a aceleração da atividade econômica.

Desde o terceiro trimestre de 2011, quando o PIB brasileiro apresentou crescimento zero, que a taxa básica de juros (SELIC) vem sofrendo redução pelo Banco Central, estando hoje no patamar de 8,5% ao ano, o que configura a menor taxa da história.

A redução da taxa SELIC é uma resposta da equipe econômica do governo frente ao baixo crescimento do PIB divulgado no primeiro trimestre de 2012, que subiu apenas 0,2% em comparação aos três meses anteriores, conforme o IBGE.

Com a intenção de dar energia para a economia se movimentar, o governo acena para novas reduções nos juros, com o mercado projetando uma taxa em torno de 7% no fim de novembro, quando ocorrerá a última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) no ano de 2012.

Considerando que os juros altos inibem os investimentos produtivos, é importante que o Brasil busque um patamar de juros similar ao praticado internacionalmente. Porém essa política macroeconômica deve ser implantada com cautela, considerando os reflexos que pode acarretar no conjunto da economia, principalmente nas questões destacadas abaixo:

Inflação:

Quando o governo reduz os juros, tem a intenção de injetar mais recursos na economia por meio do crédito, pois, com as condições de financiamento cada vez mais facilitadas, haverá um ensejo ao consumo pelas famílias. Isso vai resultar numa equação que trará aquecimento econômico e consequente expectativa de inflação.

Quando aumenta o número de pessoas aptas a consumir, ancoradas por políticas de facilitação do crédito e outras medidas de estímulo, ocorrerá a injeção de mais dinheiro em circulação, o que resulta na elevação dos preços.

Se uma economia for estimulada demais, o consumo das famílias poderá aumentar além da capacidade de produção do país, resultando na falta de produtos. É nesse momento que os produtores se aproveitam do aumento da procura para elevar os preços, visando ao lucro, dentro da lógica acumulativa do capitalismo.

A principal causa da inflação é o desencontro entre oferta e demanda. Então, quanto mais se reduz o juro, mais se deve ter atenção para a pressão inflacionária gerada pelo aumento da demanda por parte do mercado consumidor.

Dessa forma, o Banco Central deve ser bastante cauteloso no manuseio da taxa de juros, pois o aumento da moeda em circulação pressionará os preços para cima. Quanto maior for a redução dos juros, maior será a expectativa de inflação na economia.

Endividamento:

Diante da crise internacional, reduzir os juros para estimular o mercado é uma alternativa para driblar os efeitos das turbulências externas; porém essas políticas devem ser responsáveis para evitar o endividamento.

Existem alguns exemplos de países da faixa do euro, cujas populações foram extremamente especuladoras a ponto de se endividarem com a intenção de gerar riqueza, e por conta disso têm um futuro economicamente sombrio pela frente.

Foi justamente o consumo em exagero que levou a Europa a uma crise com alto grau de endividamento; pois, na década anterior, diversos países periféricos ingressaram na zona do Euro e passaram a observar custos de capital muito mais baixos do que estavam acostumados. Tal fato estimulou esses países a irem às compras e consumir além das suas capacidades de pagamento. Uma vez que custos de capital menores ensejam um processo de endividamento, agora essas populações estão pagando o preço da especulação.

Numa abordagem nacional, é possível dizer que o corte de juros também visa à redução de custos de capital, e o aumento do consumo das famílias, provocado pelo crescimento do mercado interno e pela redução dos juros, resultaram na elevação do índice de endividamento das famílias brasileiras.

O acesso facilitado ao crédito por meio de financiamentos provoca o comprometimento da renda dos consumidores que possuem menor capacidade de pagamento.

Levantamento da “Tendências Consultoria” aponta que, pela primeira vez, mais da metade da renda anual dos brasileiros estará comprometida com dívidas em 2012, quando o endividamento das famílias deve chegar a 51%.

Com o esforço do governo em facilitar o crédito para as famílias através de linhas mais baratas, a capacidade de endividamento aumentará. Por isso, é preciso estar atento ao comprometimento do salário com as prestações, o que é determinante para a inadimplência.

Inadimplência:

Outra problemática advinda do aumento das medidas de estímulo ao consumo, como a redução de juros, é a elevação dos índices de inadimplência.

Os últimos dados do Banco Central mostram que a taxa de inadimplência das pessoas físicas voltou a subir em abril, quando atingiu 7,6%, contra 7,4% em março deste ano – atingindo, assim, o maior patamar desde dezembro de 2009, quando havia atingido 7,7%.

Então, a redução dos juros pode levar ao endividamento das famílias, com consequente elevação do número de inadimplentes.

Encerrando, além da redução dos juros, como política de estímulo ao mercado interno frente às crises, o governo também deveria se preocupar em aplicar recursos na expansão da capacidade produtiva por meio da elevação do percentual do PIB aplicado em investimentos, objetivando a geração de emprego e renda para a população.

A situação do Brasil comparada à conjuntura mundial demonstra uma certa solidez, porém o governo não tem aproveitado esse momento para investir em questões estruturantes, como as reformas fundamentais. O Brasil necessita de  uma ampla reforma tributária, que simplifique, desburocratize e dê competitividade, além de uma reforma administrativa, que reduza a burocracia e dê eficiência à máquina pública, bem como uma verdadeira e efetiva reforma previdenciária.

Muitas são as questões que devem estar permanentemente na pauta maior da equipe econômica do governo, que precisa cada vez mais estar atenta aos acontecimentos econômicos externos, principalmente diante da atmosfera de incertezas que paira sobre o mundo desenvolvido.

(Administradores.com)

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