A previdência privada é cada vez mais procurada pelos brasileiros para complementar o regime público de aposentadoria. Atualmente, mais de 12 milhões de pessoas já investem no produto privado e a Fenaprevi (Federação das Empresas de Previdência Privada) estima um crescimento entre 15% e 18% da arrecadação dos planos em 2015.
O histórico dos investimentos em previdência privada de janeiro a agosto deste ano revela um aumento de 28,4% em relação ao mesmo período de 2014. As modalidades PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) e VBGL (Vida Gerador de Benefícios Livres) arrecadaram juntas mais de R$ 60 bilhões até agosto de 2015, segundo a Fenaprevi.
Segundo especialistas, a evolução da educação financeira e a maior preocupação dos brasileiros em poupar dinheiro têm contribuído para esse crescimento do mercado de previdência privada. Outro fator determinante para esse cenário é a reforma da Previdência Social, que tem causado bastante insegurança em relação ao futuro do sistema público previdenciário.
RECEIO – A presidente Dilma Rousseff sancionou, no início de novembro, a Lei 13.183/2015, que altera o cálculo da aposentadoria da Previdência Social, variando progressivamente de acordo com a expectativa de vida da população.
Agora está valendo a regra conhecida como 85/95, que permite ao trabalhador se aposentar sem a redução aplicada pelo fator previdenciário sobre a aposentadoria. Para isso, a soma da idade e do tempo de contribuição deverá ser de 85 para mulheres e 95 para homens.
A nova lei também determina que, a partir de 2018, a regra 85/95 terá caráter progressivo, ou seja, será adicionado um ponto na fórmula a cada dois anos. Em 2026, por exemplo, a mulher só poderá se aposentar quando tiver 90 pontos, e os homens, 100.
Para Michael Viriato, coordenador do laboratório de finanças do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), as pessoas ficam mais inseguras cada vez que o governo faz uma mudança na Previdência Social. “Embora muitas vezes seja necessária e benéfica, como é o caso dessa última reforma, o pensamento de que o futuro da aposentadoria pode mudar para pior assusta. E isso faz com que a previdência privada seja procurada como alternativa”, acredita.
Segundo o especialista, de forma geral as pessoas guardam dinheiro na famosa poupança; só que ela hoje não está cobrindo nem as perdas com a inflação. “Quando os investidores percebem que a poupança não é mais vantajosa, procuram outros meios, e os próprios agentes de bancos colocam em pauta a opção de investimento pela previdência privada”, diz.
PROTEÇÃO E JUROS – Em um cenário de incertezas econômicas, é comum que as pessoas se preocupem mais em poupar dinheiro para proteção financeira em caso de possíveis perdas no futuro. E a previdência privada, segundo os especialistas, se encaixa nesse objetivo porque sua característica principal é acumulação de recursos visando o longo prazo, como a aposentadoria.
Atualmente, com as taxas de juros elevadas, a previdência privada não é considerada um bom investimento em termos de rentabilidade, segundo o economista Erick Herbert Thau, da Técnica Finance Advisory e sócio da Salix Group. “No entanto, como se trata de um investimento de longo prazo e a taxa de juros nos próximos anos deve voltar a cair, a diferença entre as aplicações nos títulos do Tesouro e fundos de renda fixa, por exemplo, deverá diminuir quando comparadas às taxas obtidas pela previdência privada”, pontua.
COMO INVESTIR – Ao contratar um plano de previdência privada, é essencial que o investidor conheça as características de cada modalidade (PGBL e VGBL) e quais fundos podem fazer parte dessa carteira de investimentos. Pesquisar a idoneidade das instituições gestoras é igualmente importante para não cair em armadilhas.
A principal diferença entre os planos é que no PGBL, recomendado para quem faz a declaração completa do Imposto de Renda, é possível deduzir até 12% da renda tributável do contribuinte, ou seja, os investimentos são abatidos no cálculo do imposto do ano seguinte.
“Já o VGBL não permite deduzir. Em compensação, o investidor só é tributado sobre os ganhos das aplicações financeiras quando for resgatar o dinheiro do plano”, explica o educador financeiro Silvio Bianchi, da DSOP Educação Financeira.
No caso dos fundos, Bianchi recomenda uma avaliação do perfil de risco do investidor. “Às vezes, planos de previdência muito arriscados, mas que oferecem retornos acima da média, podem ser muito tentadores. Porém, é necessário avaliar o quão disposto o investidor está de correr esses riscos, mesmo frente a promessas de bons ganhos”, afirma.
Fernando Nogueira da Costa, economista e professor da Unicamp, destaca que previdência complementar já atingiu seu público potencial e, provavelmente, passará só a crescer em valores. “Isso ocorrerá devido aos novos aportes anuais de 12% da renda bruta, para aproveitar o incentivo fiscal, e à capitalização realizada pelos mais elevados juros do mundo”, finaliza.